Apresentamos-te a Sara, uma finlandesa de 33 anos, cuja experiência com leucemia mieloide aguda (LMA) começou aos 26 anos. Apesar de enfrentar desafios, a resiliência de Sara transparece quando partilha ideias sobre como navegar no tratamento do cancro, encontrar força nas relações e defender os jovens adultos doentes de cancro.
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Qual é o teu nome? Que idade tens? De onde és?
O meu nome é Sara. Tenho 33 anos e sou da Finlândia.
Qual é o teu diagnóstico?
Leucemia mieloide aguda, abreviadamente AML.
Como e quando soubeste do teu diagnóstico?
Aos 26 anos, fui subitamente hospitalizada devido a uma hemorragia contínua. Olhando para trás, tive outros sintomas, como infecções sucessivas e fadiga, mas foram facilmente explicados pelo stress.
O que é que a experiência do cancro te ensinou?
Que sou tão resistente! Já passei por tanta coisa e ainda sou capaz de continuar e desfrutar da vida. Depois de terminar o meu tratamento ativo, tive muitas dificuldades mentais, mas consegui defender-me e encontrar o profissional certo para me ajudar.
O que mais te ajudou durante o processo de tratamento?
A minha família e os meus amigos. Ficarei eternamente grata a todos eles por me terem apoiado e por me terem mantido informada e não me terem tratado como uma doente. Havia tantas pessoas prontas para me visitar que tive de controlar tudo com a minha agenda!
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O que gostarias de realizar no âmbito da EU-CAYAS-NET?
Gostaria de ajudar a criar uma ligação mais forte entre a nossa associação nacional e outras associações europeias. Há tão poucos doentes AYA na Finlândia que, por vezes, o apoio entre pares não é viável, por isso talvez os pares europeus possam ajudar a colmatar essa lacuna. Existem também tantos recursos excelentes produzidos por esta rede, que seria uma pena não os aproveitarmos e tentarmos fazer tudo sozinhos.
O que fazes nos teus tempos livres?
Sou membro ativo de algumas associações de luta contra o cancro, defendendo os jovens adultos. Tento equilibrar isto mantendo-me em contacto com os meus amigos e saindo. Passei tanto tempo confinada ao meu quarto de hospital ou em casa, que agora tento sair e experimentar tudo! Museus, teatros, feiras de aldeia... Se quiseres, estou lá!
Qual é o melhor conselho que já recebeste?
"Isto também vai passar". Foi-me dito pela minha enfermeira preferida quando eu não conseguia ver o fim dos meus tratamentos e a depressão se insinuava na minha mente. É uma mudança de pensamento tão pequena com um impacto tão grande. Ainda hoje a utilizo quando me sinto bloqueada, em baixo ou frustrada com novos obstáculos.
Que objetivo pessoal gostarias de atingir a seguir?
Tenho tido efeitos secundários a longo prazo que me impedem de ser tão ativo como gostaria. O meu objetivo a curto prazo é conseguir correr longas distâncias e, um dia, participar nos Jogos Mundiais de Transplantes!
Como é que lidas com as dificuldades?
Tenho estado a aprender a abrir-me com os meus entes queridos, abraçando o poder do diálogo. Instintivamente, eu engarrafava tudo e isolava-me de toda a gente, mas como isso só torna tudo mais difícil, comecei a articular os meus sentimentos. Reparei que isso ajuda muito! A reciprocidade é fundamental, porque não quero que ninguém se sinta como um terapeuta não remunerado.
Que lição foi mais difícil de aprender para ti?
Que a minha vida nunca mais voltará a ser como dantes. Passei tanto tempo a pensar que, assim que terminasse os tratamentos e voltasse a estar em forma, poderia retomar a minha vida. Tive de lamentar a perda da minha vida despreocupada e aprender a aceitar este novo capítulo. Quando deixei de me comparar com os outros ou com o meu eu mais novo, a vida melhorou muito.
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Qual é a aplicação que mais utilizas no teu telemóvel?
Provavelmente o Instagram. Sou muito má a partilhar a minha vida lá, mas adoro enviar e receber memes e clips divertidos. Também gosto de ver o que todos os meus novos amigos da EU-CAYAS-NET andam a fazer!
Qual foi a última coisa que viste na TV/internet/Netflix e porque é que a escolheste?
Vi o filme "Normal People". Foi um bom lembrete de que a normalidade não existe e que todos nós temos demónios. É tão fácil perdermo-nos no enorme poço que é o cancro que, por vezes, nos esquecemos que a vida nos traz dificuldades, mesmo quando tudo corre bem.



